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ensaios de
transcendência

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Ensaios de transcendência é um livro de poemas trabalhado ao longo de 2010 e 2016, refletindo um meticuloso cuidado com a linguagem e um amadurecimento do próprio projeto. Sobre diferentes tópicos, pouco definidos e abstratos, sua composição é dividida em três partes, introduzidas por uma epígrafe que joga com a tradição literária, porém corrompida por um ato falho do poeta: “Um lance de dados jamais abolirá a razão”.

 

Explorando e manipulando o verso livre e modelos metrificados, pouco ortodoxos e sempre orientados pela dimensão sonora de cada poema, o processo de transcendência é inerente à leitura, desconstruindo a realidade objetiva e induzindo o leitor a saltos epifânicos e a novas apreensões do mundo. Tal experiência artística fica evidente nos títulos das partes integrantes da obra, “Do indelével” e “Do inefável”, dimensões ocultas do sentido e impossíveis de serem traduzidas, porém capazes de humanizar o ser por meio de um processo dialético entre o eu interior e o eu exterior, se é que cabe tal distinção.

Em 2012, quando os primeiros poemas apareciam no blog do poeta, então em atividade, Cassio Mattar Raabe idealizou e concretizou uma edição limitada a 7 exemplares com 22 poemas selecionados e ilustrados individualmente, com uma composição distinta em termos de dimensão e de materialidade.

 

Tal projeto gráfico já indicava um caráter cíclico, como a jornada do (anti) heroi mítico (contemporâneo), iniciando no preto e terminando no branco, também com um místico triângulo na capa – se bem que com uma paleta colorida, de alto-contraste, como o restante da obra, que também explora matizes degradês.

Oito anos depois, com os Ensaios de transcendência já completo e com alguns dos poemas originais revisados, uma nova edição foi idealizada, do preto ao branco e do branco ao preto, alternadamente, da capa e quarta-capa espelhadas à coloração das páginas, que diminuem um grau de sua tonalidade numa escala de 100, tendo como exceções as 4 páginas iniciais e finais das 108 que compõe este “rosário oriental” – se for lícito pensar a poesia como uma espécie de oração.

 

E por pensar a arte como algo “imaculado”, a obra tem sua composição minimalista orientada pelas contingências de sua própria natureza – transcendental –, subtraindo-se dos pormenores típicos em um livro convencional, como paginação e sumário, oferecendo ao leitor uma dimensão em que o norte pode ser o sul, que tal uma oroborus encontra no fim o próprio começo, num horizonte que somente se dilata. Se Mallarmé afirmou que “um lance de dados jamais abolirá o acaso”, não quer dizer que o acaso não possa ser orientado por uma razão – e esta é a razão da liberdade da arte, que deve ser lida sempre simbolicamente, como um manifesto à subjetividade, um oráculo sempre disposto a nos surpreender.

 

Ensaios de transcendência é uma experiência para o ser que é linguagem e é silêncio. 

 

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